Atividades espontâneas ou empreendimentos planejados constituem intervenções humanas que conferem personalidade e características próprias a determinadas regiões. Dessa interação resultam paisagens de relevante valor patrimonial que marcam o trabalho do homem sobre o território. A revitalização desses locais especiais é um fenômeno recorrente em diversas partes do mundo, repercutindo positivamente em processos de recuperação de determinados sistemas territoriais, conferindo-lhes identidade e conformando-lhes a paisagem correspondente. Assim, é possível associar a ideia de uma Arquitetura do Café a uma certa paisagem cultural cafeeira como atores do desenvolvimento regional no âmbito dos Sistemas Territoriais – rurais e urbanos – que os integram.
Complexo produtivo da fazenda de Oliveira em São João da Boa Vista [SP], no início do século XX.
Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / Coleção Sacop, Arquivos Especiais, CMU
Os estudos sobre os sistemas territoriais rurais devem abranger todos os aspectos relacionados ao ambiente rural construído, voltados direta ou indiretamente para a produção, no âmbito dos diversos sistemas produtivos que compõem o Complexo Agro-industrial-comercial, ou o agribusiness de um país ou região.
No Brasil, sempre que se fala de sistemas territoriais rurais remete-se à ideia de uma paisagem singela, bucólica, composta por pequenos sítios ou enormes glebas de terra dotadas de mais ou menos infraestrutura. A tradicional visão que se tem desses sistemas territoriais os caracteriza como um conjunto de edificações destinadas à produção agrícola ou agroindustrial, e à habitação, integradas por estradas vicinais (normalmente caminhos de terra), campos cultivados, e pequenos povoados.
Casa de colono do núcleo colonial Campos Sales, Cosmópolis [SP], entre 1900 e 1909.
Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / Coleção Sacop, Arquivos Especiais, CMU
Terreiro, tulha e casa de máquinas.
O complexo produtivo da Fazenda Santa Gertrudes na primeira década do século XX, propriedade do Conde de Prates, localizada no atual município de Santa Gertrudes [SP].
Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / Coleção Sacop, Arquivos Especiais, CMU
No entanto pesquisadores e gestores públicos de diversos países do mundo têm enfocado os sistemas territoriais rurais como um campo de estudos absolutamente fundamental para o desenvolvimento sustentável de um país ou região. Esta postura acadêmica e político-gerencial é relativamente recente, intensificando-se a partir da década de 1990.
De fato, os sistemas territoriais rurais devem ser compreendidos a partir da integração dos processos de desenvolvimento rural com os sistemas territoriais das regiões metropolitanas mais dinâmicas, bem como com as redes de cidades em sistemas territoriais agrícolas, ou ainda com o sistema territorial urbano de cidades isoladas em regiões menos dinâmicas do ponto de vista socioeconômico. Quanto mais integrados forem os processos de desenvolvimento rural, melhor se configura um sistema territorial equilibrado e sustentável.
Casa do médico no núcleo colonial Nova Pauliceia, Matão [SP], entre 1907 e 1910.
Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / Coleção Sacop, Arquivos Especiais, CMU
Uma unidade produtiva dedicada a um ou mais processos agroindustriais pode ser considerada um subsistema territorial rural, composto pelos seguintes conjuntos arquitetônicos:
- o núcleo industrial, conformado pelo conjunto de edifícios e estruturas edificadas para abrigar o maquinário e os produtos nas diversas fases do processamento agroindustrial. Trata-se do conjunto arquitetônico que abriga o patrimônio industrial da propriedade;
- a paisagem resultante da integração dos sistemas hídricos e territoriais, composta por corpos d’água, remanescentes de mata natural, pelos campos de pastagem e bosques implantados artificialmente, os jardins e pomares, a lavoura ou o campo cultivado propriamente dito. No caso de uma fazenda de café, por exemplo, a arquitetura da lavoura cafeeira representada pelo desenho de implantação do cafezal e pelo desenho do próprio cafeeiro, uma vez que estes resultam de sucessivos processos de seleção e melhoramento genético, conduzidos a fim de esculpir-lhes a forma otimizando-lhes a função;
- a arquitetura das construções complementares e suplementares àquelas do núcleo industrial, existentes na maioria das propriedades rurais (tais como os currais, paióis, barracões diversos, escritórios, canais, açudes e barragens, pontes e estruturas diversas, etc.);
- a arquitetura dos edifícios destinados à habitação, como a sede da fazenda e as casas dos trabalhadores rurais;
- o patrimônio cultural existente na propriedade, composto eventualmente por remanescentes de senzalas (antigas vivendas destinadas a abrigar os escravos da fazenda), antigas colônias, habitações isoladas, antigo núcleo industrial, etc.
Secagem de café em terreiros de uma pequena plantação na Fazenda Conceição, em São Pedro [SP] no início do século XX. Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / A. Lalière, 1909.
Lalière, A. (1909). Le café dans l’état de Saint Paul. Paris: Augustin Challamel.