O ciclo do café modificou radicalmente a estrutura social e econômica do Brasil conduzindo-o na direção de um rápido e profundo processo de urbano-industrialização que, praticamente, moldou o perfil da sociedade contemporânea brasileira. Contudo, o reflexo deste ciclo não se restringiu apenas a tal âmbito, mas abrangeu também o desenho da estrutura física das diversas regiões por onde a rubiácea passou.
Reprodução de um cartão-postal de São Paulo mostrando o Vale do Anhangabaú entre os anos 1940 e 1970.
Fonte: http://museudaimigracao.org.br/cartao-postal-da-cidade-de-sao-paulo/
O Estado de São Paulo foi o cenário das maiores transformações provocadas pelo café entre os anos de 1850 e 1950. De Capitania da Colônia desprovida de riquezas e poder político, os quais se concentravam em Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, e Minas Gerais, tornou-se, neste período de cem anos, o Estado mais desenvolvido do país. Antes de 1850, porém, ocorreu no território paulista o importante ciclo do açúcar que, embora sem alcançar a magnitude do nordestino, foi suficiente para preparar-lhe a infraestrutura para que, depois, a cafeicultura penetrasse e se consolidasse até o final do Império.
Terreiro, tulha e casa de máquinas.
O complexo produtivo da Fazenda Santa Gertrudes na primeira década do século XX, propriedade do Conde de Prates, localizada no atual município de Santa Gertrudes [SP].
Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / Coleção Sacop, Arquivos Especiais, CMU.
Fazenda Santa Gertrudes. Fundada em 1854, a fazenda localizada em Santa Gertrudes retrata fielmente toda a grandeza do período áureo do Café e a chegada dos imigrantes italianos no Brasil. Santa Gertrudes [SP] (Circuito Fazendas Históricas). Localização: S 22º28.730’ – W 47º30.774’. Foto: Rubens Chiri.
Fazenda Santa Gertrudes. A fazenda com sua arquitetura centenária em estilo francês remete aos tempos aureos do café da colheita ao embarque na estação do trem. A sua antiga tulha de armazenamento foi adaptada para a realização de eventos, sendo um concorrido local para a celebração de casamentos na região. Santa Gertrudes [SP]. (Circuito Fazendas Históricas). Localização: S 22º28.730’ – W 47º30.774’. Foto: Rubens Chiri.
As regiões do Vale do Paraíba e de Campinas foram as que primeiro se beneficiaram da riqueza gerada pela produção da rubiácea no Estado e, portanto, é onde se encontram ricos exemplares de uma arquitetura distinta: a da fazenda de café. A partir da década de 1890, tendo São Paulo como a metrópole que polarizaria os negócios da espetacular produção dessa commodiy, as grandes empresas agrícolas do Oeste Paulista, localizadas principalmente na região de Ribeirão Preto, caracterizaram-se por uma arquitetura diferente daquela que se praticava no Vale do Paraíba. Nestes magníficos espaços de produção, o café vicejou e gerou riquezas até a Crise de 1929.
A Revolução de 1930 determinou a perda de poder dos empresários ligados à economia primário-exportadora, representados, principalmente, pelos fazendeiros paulistas e mineiros. Mas a expansão da cafeicultura permaneceu vigorosa, agora na direção do chamado Oeste Novo Paulista que passaria a representar a fronteira agrícola até a década de 1950.
Muro de pedras em primeiro plano. Ao fundo pode-se observar uma parte da fachada das ruínas do casarão da Fazenda Jambeiro, em Campinas [SP].
Foto: André Argollo / Campinas, 2017.
Nos últimos 50 anos, consubstanciou-se na capital do Estado de São Paulo uma metrópole moderna e mundialmente conhecida, e no seu hinterland, diversas cidades cujas estruturas físicas ergueram-se baseadas nas necessidades da economia cafeeira em diferentes períodos históricos. Porém, convém salientar que, de fato, o processo produtivo do café desenrolou-se, ao longo do tempo, em unidades empresariais que tinham uma configuração territorial própria, com sua infra-estrutura de construções civis desenhada e implantada segundo uma arquitetura específica e original: a das fazendas de café.
O livro Arquitetura do Café pretende elaborar a questão da evolução da arquitetura de um espaço de produção, tomando por objeto as fazendas de café do estado de São Paulo, vistas como unidades produtivas de um sistema integrado, de modo a se estabelecerem correlações entre técnica e arquitetura.
REFERÊNCIA
Argollo Ferrão, A. M. de (2015). Arquitetura do Café (2a. ed.). Campinas : Editora da Unicamp.
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