04. Café e Ferrovia

Olá Pessoal, neste vídeo vamos falar um pouco mais sobre o binômio “café-ferrovia”, que protagonizou o fabuloso processo de desenvolvimento territorial paulista. Eu costumo dizer que — particularmente em São Paulo — “falou café… falou ferrovia”, pois para onde o café se expandia, junto com ele estava a ferrovia, e em muitas regiões se dava o contrário, ou seja, era a ferrovia quem abria o caminho para o café. Assim sendo, vamos ressaltar detalhes importantes dessa “parceria histórica”, citando obras de referência, falando sobe as estradas “cata-café”, e comentando um pouco mais sobre a visita que fizemos ao Museu da Companhia Paulista — localizado no Complexo Fepasa em Jundiaí [SP].

É importante observar que para a compreensão dos sistemas territoriais que compõem a Arquitetura do Café, a ferrovia é apenas uma das integrações possíveis, pois, embora seja necessário e essencial reconhecer a sua abrangência e capacidade de alavancar o desenvolvimento, existem diversos outros aspectos relacionados com a grande industria cafeeira e a riqueza resultante de tais integrações. Tenha em mente um plano de visão em que cada uma das diferentes integrações que compõem a Arquitetura do Café formam inúmeras linhas ou planos que se cruzam para conformar diferentes cenários, que podem ser analisados sob diferentes ângulos, ou perspectivas que narram diferentes leituras de uma mesma história: a construção, a evolução tecnológica, o desenvolvimento, enfim… a Arquitetura do Café.
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Um abraço, André Argollo.

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André Argollo
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06. Carros de Boi em Gonçalves [MG]

Na cidade de Gonçalves [MG] muitas famílias guardam a tradição do uso de carros de boi. Todo dia 15 de setembro, Dia de Nossa Senhora das Dores, Padroeira de Gonçalves [MG] há uma Procissão de Carros de Bois das famílias da cidade e região. É um evento interessante o qual tive a oportunidade de comentar no canal "André Argollo" (Youtube).

O carro de boi era conhecido por chineses e hindus. Consta que os egípcios, babilônios, hebreus e fenícios também se utilizavam da força do boi no transporte. Não é por acaso que os europeus fizeram do boi um item indispensável da carga das caravelas. O carro de boi, ou “boeiro” em Portugal, “carreta” nos pampas gaúchos, ou ainda, “cambona” em algumas regiões do interior, foi o mais importante veículo de carga no Brasil por mais de 3 séculos, e por isso merece um lugar de destaque nos nossos estudos sobre as tradições e a cultura rural. Logo no início da colonização, Tomé de Sousa, o primeiro governador-geral do Brasil trouxe para cá carpinteiros e carreiros, de modo que, por volta de 1550, já se ouvia o o chiado cantado dos carros de boi nas ruas da recém criada cidade de Salvador [BA]. Muito utilizado na indústria açucareira colonial, transportando gente e carga da roça ao engenho, do engenho às cidades, os carros de boi mobilizaram o transporte terrestre ao longo dos séculos XVI e XVII, transportando material de construção para o interior, de onde voltavam carregados com pau-brasil e produtos agrícolas. No Brasil colonial, além dos fretes de carga, os carros de boi conduziam também as famílias de um povoado para outro. Normalmente eram usados como “carro-fúnebre”, ocasiões em que os carreiros lubrificavam os “cocões” para evitar a cantoria em hora inadequada.
Em meados do século XVIII, com o surgimento das tropas de muares, os carros de boi perderam sua primazia. Mais leves e rápidos, os burros de carga não exigiam trilhas prévias nem terrenos regulares. A partir do final século XVIII somente os cavalos passaram a poder puxar carros, carroças e carruagens. Os carros de boi foram proibidos por lei de transitar no centro das cidades, ficando o seu uso restrito ao meio rural.
[Baseado no Trabalho de] Bruna Scavacini / postado em 2013. Disponível em : http://naboleia.com.br/carro-de-boi-a-origem-do-transporte/
Acesso em 25 nov. 2019.
André Argollo
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Fazendas de Café em Ribeirão Preto [SP]

O livro Arquitetura do Café mostra que as fazendas de café possuem uma arquitetura específica e original. Tal arquitetura assume determinadas características de acordo com a região cafeeira e com o período em que foi concebida ou para o qual foi adaptada. O conjunto arquitetônico de uma fazenda cafeeira é formado pelo núcleo industrial (terreiros, tulhas e casa de máquinas), núcleos habitacionais (casa-grande e senzala, ou a casa sede e as colônias), os núcleos compostos por edifícios e instalações destinados a abrigar atividades complementares e suplementares da fazenda, como viveiros e casas de vegetação, barracões, serrarias e oficinas, pequenos currais, silos e armazéns etc., e — por fim — a arquitetura da paisagem resultante, composta pelo próprio cafezal, assim como todo o campo cultivado, que guardam em seu desenho essa arquitetura do café — original e específica, que se complementa com a existência ou não de remanescentes de mata ou áreas de recomposição, áreas de pastagens com suas subdivisões por valos ou cercas, cursos dágua, etc.

Antigas casas de colônia em fazenda de café de Ribeirão Preto [SP]. Fonte: Criador: Edson Silva Direitos autorais: @folhapress 2010 - todos direitos reservados à Folhapress — AII R
Antigas casas de colônia em fazenda de café de Ribeirão Preto [SP]. Fonte: Edson Silva / Direitos autorais: @folhapress 2010 — todos direitos reservados à Folhapress — AII R.
A arquitetura e a organização das grandes propriedades de produção do café e a influência delas na ordenação do território paulista se relacionam intimamente com o processo produtivo do café, que integra vários subprocessos realizados em unidades físicas bem definidas e caracterizadas no tempo e no espaço por elementos arquitetônicos originais e específicos, resultando uma arquitetura específica e original: a da fazenda cafeeira. O desenvolvimento tecnológico, ao impor transformações no programa de atividades do espaço da produção da fazenda de café, coevolui com a arquitetura no âmbito do seu sistema produtivo. A evolução técnico-científica exigiu adaptações no espaço destinado a abrigar cada atividade dentro e fora da fazenda cafeeira, alterando-lhe a forma; ou incrementando-lhe, restringindo-lhe, e até suprimindo-lhe a função.
Fazenda Monte Alegre. Desapropriada pelo Governo Estadual, em 1948, as terras da fazenda passaram a constituir o patrimônio da Universidade de São Paulo. Hoje serve como sede de dois museus: Histórico e do Café. Ribeirão Preto [SP]. Foto: Rubens Chiri. Fonte: Banco de Imagens do Estado de São Paulo.
Durante o período em que o café foi a principal indústria brasileira (de meados do século XIX a meados do século XX) a arquitetura das fazendas cafeeiras evoluiu de acordo com as transformações culturais, tecnológicas, socioeconômicas, políticas, ocorridas na sociedade. Na região de Ribeirão Preto, as fazendas passaram por diversas modificações.
Entre as principais mudanças relacionam-se as seguintes: a casa-grande e a senzala são substituídas por sedes rodeadas de jardins e casas de colônia; dá-se também a substituição dos equipamentos primitivos por máquinas industriais movidas a água, e depois a vapor ou eletricidade; o advento da ferrovia ao invés das "tropas de muares" exige a construção de pequenas plataformas de embarque próximas aos armazéns e às colônias da fazenda; e o núcleo industrial agiganta-se transformando-se no principal componente arquitetônico da grande empresa produtora de café.
A casa-grande e a senzala foram substituídas por sedes rodeadas de jardins e casas de colônia; a construção da ferrovia exigiu a implantação de pequenas plataformas de embarque próximas aos armazéns e às colônias da fazenda; o núcleo industrial cresceu, transformando-se no principal componente arquitetônico da fazenda. Da mesma forma, em outras regiões cafeeiras pode-se observar diferentes mudanças, de acordo com o contexto regional e com o período que se analisa.
Casa-sede da Fazenda Boa Vista, em Ribeirão Preto [SP], construção do final do século XIX. Foto: Vladimir Benincasa. Fonte: Benincasa, V. (2010). As casa de fazendas paulistas. Com Ciência. Revista Eletrônica de Jornalismo Científico. Disponível em: http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=60&id=759
Fazenda Schmidt, Ribeirão Preto, SP. Fonte: A. Lalière, 1909; B. Belli, 1910. In Arquitetura do Café [por] André Argollo / A. Lalière, 1909.
Terreiros de uma das fazendas de M. Francisco Schmidt, em Ribeirão Preto, SP, com a usina de beneficiamento ao fundo e a colônia no horizonte. 
Fonte: A. Lalière, 1909. In Arquitetura do Café [por] André Argollo.
Muitas fazendas possuem construções antigas em bom estado de conservação, restauradas ou — em alguns casos — reconstruídas por completo. Infelizmente esta não é a realidade de uma grande parte das propriedades rurais, que — por falta de dinheiro ou falta de consideração dos proprietários acabaram perdendo os registros arquitetônicos que outrora lhes embelezavam a arquitetura do café. Todavia, para resgatar a tradição das grandes fazendas cafeeiras, os edifícios que compõem seu conjunto arquitetônico podem conter elementos presentes na arquitetura colonial brasileira. Grandes varandas, amplos telhados com telhas de barro, portas e janelas de madeira coloridas, lambris no teto e ladrilhos hidráulicos são alguns dos exemplos a serem utilizados em novos projetos ou em projetos de restauro/reconstituição. Muitos elementos considerados símbolo das antigas fazendas, como os fogões à lenha, são incorporados nesses projetos não pela praticidade do seu uso, mas sim pelo valor simbólico-arquitetônico que possuem. Obviamente não é necessário se valer de todos estes itens ao mesmo tempo para que se realize o resgate de memória.
Fachada do Museu do Café de Ribeirão Preto [SP].
Vista da varanda de uma das alas do Casarão do Museu do Café de Ribeirão Preto [SP].
No caso da arquitetura do café, eu considero que uma boa arquitetura vai muito além de um bom desenho, pois remete aos cinco sentidos. Na arquitetura do café, o “aroma” é essencial na composição do ambiente — há que sensibilizar o olfato com aromas do café e da fazenda; assim como o tato — textura dos revestimentos, o material que compõe o mobiliário etc.; a luz deve ser bem pensada — o que exige do arquiteto um belo estudo da luminosidade do ambiente para conjugar rural com urbano, tradicional com contemporâneo; a sonoridade também é relevante. Assim também em ambientes urbanos, por exemplo no projeto de uma cafeteria, em que o próprio som do preparo do café, da manipulação das louças, das conversas sempre amenas, tudo isso pode ser muito bem explorado pela boa arquitetura do café. O sabor, nem se fala !
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REFERÊNCIA para citar este Texto:

Argollo Ferrão, A. M. de (2019). Fazendas de Café em Ribeirão Preto [SP]. In: Arquitetura do Café [Blog]. Disponível em: http://arquiteturadocafe.com.br/blog/

REFERÊNCIAS citadas neste Texto:

Argollo Ferrão, A. M. de (2015). Arquitetura do Café (2a. ed.). Campinas: Editora da Unicamp.

Argollo Ferrão, A. M. de (2005). A Fazenda Cafeeira e suas características no tempo e no espaço por elementos arquitetônicos. Revista Cafeicultura, n. 24, out./2005. Disponível em : https://revistacafeicultura.com.br/?mat=5550

Argollo Ferrão, A. M. de (2004). Arquitetura do Café (1a ed.). São Paulo: IMESP; Campinas: Editora da Unicamp.

Belli, B. (1910). Il caffè: il suo paese e la sua importanza. Milão: Ulrico Hoepli. Manuali Hoepli, con 48 tavole, 7 diagrammi e carta delle zone caffeitere.

Benincasa, V. (2010). As casa de fazendas paulistas. Com Ciência. Revista Eletrônica de Jornalismo Científico. Disponível em: http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=60&id=759.

Lalière, A. (1909). Le café dans l’état de Saint Paul. Paris: Augustin Challamel.
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Fazenda de Café : um sistema produtivo integrado

Ao se tratar de um sistema produtivo, seja ele industrial, comercial, agrícola ou mesmo artesanal, deve-se ter em mente questões pertinentes ao universo em que ele se insere, e que são ora determinantes, ora resultantes de sua evolução. Tal é o caso das relações existentes entre Técnica e Arquitetura presentes num sistema destinado à produção: um pode influenciar a evolução do outro, porém, ambos desenvolvem-se coerentemente com o perfil do sistema produtivo em que estão inseridos. É isto o que se pretende demonstrar com a pesquisa que gerou o livro Arquitetura do Café.

Fazenda do Secretário, em Vassouras [RJ], um dos mais iconográficos exemplos do período áureo do Vale do Paraíba. Chegou a possuir cerca de 500 mil pés de café e mais de 350 escravos. Litogravura de Louis-Jullien Jacottet, 1861. Domínio público, Biblioteca Nacional Digital.
Partindo-se da hipótese de que há uma forte ligação entre a arquitetura das fazendas e as técnicas empregadas no processo produtivo do café, pode-se reconhecer a “arquitetura da produção” das regiões onde se empregaram processos definidos por um semelhante estágio de desenvolvimento técnico, e condições sócio-econômicas parecidas. Para se compreender a correlação entre Técnica e Arquitetura, no estudo que gerou o conteúdo do livro Arquitetura do Café, tomou-se como cenário as fazendas de café do interior paulista no período entre 1850 e 1950.
Litografia da Fazenda Ibicaba, de autor desconhecido. Coleção Paulo Levy. O núcleo industrial da fazenda caracteriza um cenário de plena integração entre as técnicas empregadas no processo produtivo do café e a arquitetura correspondente.
Heflinger Jr., J. E. (2014). O sistema de parceria e a imigração europeia. Limeira: Unigráfica.
Mendes, F. L. R. (2017). Ibicaba revisitada outra vez: espaço, escravidão e trabalho livre no oeste paulista.
Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, 25(1), 301-357. https://dx.doi.org/10.1590/1982-02672017v25n0112
Assim, definiu-se por complexo produtivo das fazendas cafeeiras, o conjunto formado por terreiro, tulha e casa das máquinas (o qual passaremos a chamar de núcleo industrial da fazenda), mais o cafezal. Por analogia, quando se mencionar a arquitetura deste complexo, ou seja, a arquitetura do complexo produtivo da fazenda cafeeira, pretende-se abranger a arquitetura do núcleo industrial e a arquitetura do cafezal.
Arquitetura do Núcleo Industrial da Fazenda Santa Genebra, em Campinas [SP]. Os terreirões de secagem de café nas proximidades da sede, da tulha e da casa de máquinas eram típicos do empreendimento cafeeiro. In: Engenhos e Fazendas de Café em Campinas (Séc. XVIII - Séc XX). Uso amparado pela Lei 9619/98.

Silva, A. P. da (2006). Engenhos e fazendas de café em Campinas (séc. XVIII – séc. XX). Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, 14(1), 81-119. https://dx.doi.org/10.1590/S0101-47142006000100004

Arquitetura do Núcleo Industrial da Fazenda Conceição, em São Pedro [SP]. Secagem de café em terreiros de uma pequena plantação no início do século XX. Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / A. Lalière, 1909.

Argollo Ferrão, A. M. de (2015). Arquitetura do Café (2a. ed.). Campinas: Editora da Unicamp.

Lalière, A. (1909). Le café dans l’état de Saint Paul. Paris: Augustin Challamel.

Arquitetura do Cafezal. Trabalhadores na colheita do café no final do século XIX. É possível observar as características da arquitetura do cafezal a partir do alinhamento dos cafeeiros, da altura de cada pé de café, da conformação da paisagem correspondente.

Agassiz, J. L. R., & Agassiz, E. C. (1899). Album de Vues du Brésil. Paris: A. Lahure. Original pertence à BNDigital http://bndigital.bn.gov.br/acervodigital/ Disponível em História & Outras Histórias (Blog de Marta Iansen) https://martaiansen.blogspot.com/2016/01/colheita-do-cafe.html Acesso em 28 out./2019.

Arquitetura do cafezal. Mulheres trabalhadoras no cafezal em pleno século XXI. As características da arquitetura do cafezal podem ser observadas pelo alinhamento dos cafeeiros, altura dos pés de café, e pela conformação da paisagem resultante.

Arzabe, C. et al. (Ed. técnicas) (2017). Mulheres dos cafés no Brasil. Brasília: Embrapa. E-book: il. color. ISBN 978-85-7035-729-8 Disponível em http://www.sapc.embrapa.br/arquivos/consorcio/publicacoes_tecnicas/mulheres-dos-cafes-no-brasil-convertido.pdf Acesso em 28 out./2019.

Portanto, é muito importante verificar-se a influência que a evolução técnica do maquinário empregado no processo de beneficiamento do café possa ter exercido sobre a arquitetura do núcleo industrial das fazendas, e que implicações isto pode ter gerado em todo o conjunto. Desse modo, a integração entre Técnica e Arquitetura no sistema espacial "fazenda de café" é essencial para a compreensão do processo de conformação da paisagem produtiva resultante.
REFERÊNCIA para citar este Texto:
Argollo Ferrão, A. M. de (2015). Arquitetura do Café (2a. ed., Prefácio). Campinas : Editora da Unicamp.
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Fazenda de Café : uma arquitetura distinta

O ciclo do café modificou radicalmente a estrutura social e econômica do Brasil conduzindo-o na direção de um rápido e profundo processo de urbano-industrialização que, praticamente, moldou o perfil da sociedade contemporânea brasileira. Contudo, o reflexo deste ciclo não se restringiu apenas a tal âmbito, mas abrangeu também o desenho da estrutura física das diversas regiões por onde a rubiácea passou.

Reprodução de um cartão-postal de São Paulo mostrando o Vale do Anhangabaú entre os anos 1940 e 1970.
Fonte: http://museudaimigracao.org.br/cartao-postal-da-cidade-de-sao-paulo/
O Estado de São Paulo foi o cenário das maiores transformações provocadas pelo café entre os anos de 1850 e 1950. De Capitania da Colônia desprovida de riquezas e poder político, os quais se concentravam em Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, e Minas Gerais, tornou-se, neste período de cem anos, o Estado mais desenvolvido do país. Antes de 1850, porém, ocorreu no território paulista o importante ciclo do açúcar que, embora sem alcançar a magnitude do nordestino, foi suficiente para preparar-lhe a infraestrutura para que, depois, a cafeicultura penetrasse e se consolidasse até o final do Império.
Terreiro, tulha e casa de máquinas.
O complexo produtivo da Fazenda Santa Gertrudes na primeira década do século XX, propriedade do Conde de Prates, localizada no atual município de Santa Gertrudes [SP].
Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / Coleção Sacop, Arquivos Especiais, CMU.
Fazenda Santa Gertrudes. Fundada em 1854, a fazenda localizada em Santa Gertrudes retrata fielmente toda a grandeza do período áureo do Café e a chegada dos imigrantes italianos no Brasil. Santa Gertrudes [SP] (Circuito Fazendas Históricas). Localização: S 22º28.730’ – W 47º30.774’. Foto: Rubens Chiri.
Fazenda Santa Gertrudes. A fazenda com sua arquitetura centenária em estilo francês remete aos tempos aureos do café da colheita ao embarque na estação do trem. A sua antiga tulha de armazenamento foi adaptada para a realização de eventos, sendo um concorrido local para a celebração de casamentos na região. Santa Gertrudes [SP]. (Circuito Fazendas Históricas). Localização: S 22º28.730’ – W 47º30.774’. Foto: Rubens Chiri.
As regiões do Vale do Paraíba e de Campinas foram as que primeiro se beneficiaram da riqueza gerada pela produção da rubiácea no Estado e, portanto, é onde se encontram ricos exemplares de uma arquitetura distinta: a da fazenda de café. A partir da década de 1890, tendo São Paulo como a metrópole que polarizaria os negócios da espetacular produção dessa commodiy, as grandes empresas agrícolas do Oeste Paulista, localizadas principalmente na região de Ribeirão Preto, caracterizaram-se por uma arquitetura diferente daquela que se praticava no Vale do Paraíba. Nestes magníficos espaços de produção, o café vicejou e gerou riquezas até a Crise de 1929.
A Revolução de 1930 determinou a perda de poder dos empresários ligados à economia primário-exportadora, representados, principalmente, pelos fazendeiros paulistas e mineiros. Mas a expansão da cafeicultura permaneceu vigorosa, agora na direção do chamado Oeste Novo Paulista que passaria a representar a fronteira agrícola até a década de 1950.
Muro de pedras em primeiro plano. Ao fundo pode-se observar uma parte da fachada das ruínas do casarão da Fazenda Jambeiro, em Campinas [SP].
Foto: André Argollo / Campinas, 2017.
Nos últimos 50 anos, consubstanciou-se na capital do Estado de São Paulo uma metrópole moderna e mundialmente conhecida, e no seu hinterland, diversas cidades cujas estruturas físicas ergueram-se baseadas nas necessidades da economia cafeeira em diferentes períodos históricos. Porém, convém salientar que, de fato, o processo produtivo do café desenrolou-se, ao longo do tempo, em unidades empresariais que tinham uma configuração territorial própria, com sua infra-estrutura de construções civis desenhada e implantada segundo uma arquitetura específica e original: a das fazendas de café.
O livro Arquitetura do Café pretende elaborar a questão da evolução da arquitetura de um espaço de produção, tomando por objeto as fazendas de café do estado de São Paulo, vistas como unidades produtivas de um sistema integrado, de modo a se estabelecerem correlações entre técnica e arquitetura.
REFERÊNCIA
Argollo Ferrão, A. M. de (2015). Arquitetura do Café (2a. ed.). Campinas : Editora da Unicamp.
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Organização espacial de um sistema territorial rural

Atividades espontâneas ou empreendimentos planejados constituem intervenções humanas que conferem personalidade e características próprias a determinadas regiões. Dessa interação resultam paisagens de relevante valor patrimonial que marcam o trabalho do homem sobre o território. A revitalização desses locais especiais é um fenômeno recorrente em diversas partes do mundo, repercutindo positivamente em processos de recuperação de determinados sistemas territoriais, conferindo-lhes identidade e conformando-lhes a paisagem correspondente. Assim, é possível associar a ideia de uma Arquitetura do Café a uma certa paisagem cultural cafeeira como atores do desenvolvimento regional no âmbito dos Sistemas Territoriais – rurais e urbanos – que os integram.

Complexo produtivo da fazenda de Oliveira em São João da Boa Vista [SP], no início do século XX.
Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / Coleção Sacop, Arquivos Especiais, CMU
Os estudos sobre os sistemas territoriais rurais devem abranger todos os aspectos relacionados ao ambiente rural construído, voltados direta ou indiretamente para a produção, no âmbito dos diversos sistemas produtivos que compõem o Complexo Agro-industrial-comercial, ou o agribusiness de um país ou região.
No Brasil, sempre que se fala de sistemas territoriais rurais remete-se à ideia de uma paisagem singela, bucólica, composta por pequenos sítios ou enormes glebas de terra dotadas de mais ou menos infraestrutura. A tradicional visão que se tem desses sistemas territoriais os caracteriza como um conjunto de edificações destinadas à produção agrícola ou agroindustrial, e à habitação, integradas por estradas vicinais (normalmente caminhos de terra), campos cultivados, e pequenos povoados.
Casa de colono do núcleo colonial Campos Sales, Cosmópolis [SP], entre 1900 e 1909.
Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / Coleção Sacop, Arquivos Especiais, CMU
Terreiro, tulha e casa de máquinas.
O complexo produtivo da Fazenda Santa Gertrudes na primeira década do século XX, propriedade do Conde de Prates, localizada no atual município de Santa Gertrudes [SP].
Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / Coleção Sacop, Arquivos Especiais, CMU
No entanto pesquisadores e gestores públicos de diversos países do mundo têm enfocado os sistemas territoriais rurais como um campo de estudos absolutamente fundamental para o desenvolvimento sustentável de um país ou região. Esta postura acadêmica e político-gerencial é relativamente recente, intensificando-se a partir da década de 1990.
De fato, os sistemas territoriais rurais devem ser compreendidos a partir da integração dos processos de desenvolvimento rural com os sistemas territoriais das regiões metropolitanas mais dinâmicas, bem como com as redes de cidades em sistemas territoriais agrícolas, ou ainda com o sistema territorial urbano de cidades isoladas em regiões menos dinâmicas do ponto de vista socioeconômico. Quanto mais integrados forem os processos de desenvolvimento rural, melhor se configura um sistema territorial equilibrado e sustentável.
Casa do médico no núcleo colonial Nova Pauliceia, Matão [SP], entre 1907 e 1910.
Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / Coleção Sacop, Arquivos Especiais, CMU
Uma unidade produtiva dedicada a um ou mais processos agroindustriais pode ser considerada um subsistema territorial rural, composto pelos seguintes conjuntos arquitetônicos:
  • o núcleo industrial, conformado pelo conjunto de edifícios e estruturas edificadas para abrigar o maquinário e os produtos nas diversas fases do processamento agroindustrial. Trata-se do conjunto arquitetônico que abriga o patrimônio industrial da propriedade;
  • a paisagem resultante da integração dos sistemas hídricos e territoriais, composta por corpos d’água, remanescentes de mata natural, pelos campos de pastagem e bosques implantados artificialmente, os jardins e pomares, a lavoura ou o campo cultivado propriamente dito. No caso de uma fazenda de café, por exemplo, a arquitetura da lavoura cafeeira representada pelo desenho de implantação do cafezal e pelo desenho do próprio cafeeiro, uma vez que estes resultam de sucessivos processos de seleção e melhoramento genético, conduzidos a fim de esculpir-lhes a forma otimizando-lhes a função;
  • a arquitetura das construções complementares e suplementares àquelas do núcleo industrial, existentes na maioria das propriedades rurais (tais como os currais, paióis, barracões diversos, escritórios, canais, açudes e barragens, pontes e estruturas diversas, etc.);
  • a arquitetura dos edifícios destinados à habitação, como a sede da fazenda e as casas dos trabalhadores rurais;
  • o patrimônio cultural existente na propriedade, composto eventualmente por remanescentes de senzalas (antigas vivendas destinadas a abrigar os escravos da fazenda), antigas colônias, habitações isoladas, antigo núcleo industrial, etc.
Secagem de café em terreiros de uma pequena plantação na Fazenda Conceição, em São Pedro [SP] no início do século XX. Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / A. Lalière, 1909.

Lalière, A. (1909). Le café dans l’état de Saint Paul. Paris: Augustin Challamel.

Assim se caracteriza a arquitetura de uma propriedade rural – ou, um subsistema territorial rural, ou ainda, um sistema espacial especializado, neste caso, rural. Suas múltiplas interfaces e seu papel no chamado “sistema cidade-campo” eleva a arquitetura rural a uma privilegiada condição de elemento de integração entre o meio e o complexo de sistemas geradores de ciência e informação de que se compõe o agribusiness de um país ou região. Os sistemas territoriais rurais encontram-se, pois, intimamente relacionados com o sistema tecnológico de um determinado complexo produtivo inserido no âmbito do Complexo Agro-industrial-comercial de um país ou região.
REFERÊNCIA
Argollo Ferrão, A. M. de (2015). Arquitetura do Café (2a. ed., Prefácio). Campinas : Editora da Unicamp.
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