04. Café e Ferrovia

Olá Pessoal, neste vídeo vamos falar um pouco mais sobre o binômio “café-ferrovia”, que protagonizou o fabuloso processo de desenvolvimento territorial paulista. Eu costumo dizer que — particularmente em São Paulo — “falou café… falou ferrovia”, pois para onde o café se expandia, junto com ele estava a ferrovia, e em muitas regiões se dava o contrário, ou seja, era a ferrovia quem abria o caminho para o café. Assim sendo, vamos ressaltar detalhes importantes dessa “parceria histórica”, citando obras de referência, falando sobe as estradas “cata-café”, e comentando um pouco mais sobre a visita que fizemos ao Museu da Companhia Paulista — localizado no Complexo Fepasa em Jundiaí [SP].

É importante observar que para a compreensão dos sistemas territoriais que compõem a Arquitetura do Café, a ferrovia é apenas uma das integrações possíveis, pois, embora seja necessário e essencial reconhecer a sua abrangência e capacidade de alavancar o desenvolvimento, existem diversos outros aspectos relacionados com a grande industria cafeeira e a riqueza resultante de tais integrações. Tenha em mente um plano de visão em que cada uma das diferentes integrações que compõem a Arquitetura do Café formam inúmeras linhas ou planos que se cruzam para conformar diferentes cenários, que podem ser analisados sob diferentes ângulos, ou perspectivas que narram diferentes leituras de uma mesma história: a construção, a evolução tecnológica, o desenvolvimento, enfim… a Arquitetura do Café.
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Um abraço, André Argollo.

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André Argollo
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Fazendas de Café em Ribeirão Preto [SP]

O livro Arquitetura do Café mostra que as fazendas de café possuem uma arquitetura específica e original. Tal arquitetura assume determinadas características de acordo com a região cafeeira e com o período em que foi concebida ou para o qual foi adaptada. O conjunto arquitetônico de uma fazenda cafeeira é formado pelo núcleo industrial (terreiros, tulhas e casa de máquinas), núcleos habitacionais (casa-grande e senzala, ou a casa sede e as colônias), os núcleos compostos por edifícios e instalações destinados a abrigar atividades complementares e suplementares da fazenda, como viveiros e casas de vegetação, barracões, serrarias e oficinas, pequenos currais, silos e armazéns etc., e — por fim — a arquitetura da paisagem resultante, composta pelo próprio cafezal, assim como todo o campo cultivado, que guardam em seu desenho essa arquitetura do café — original e específica, que se complementa com a existência ou não de remanescentes de mata ou áreas de recomposição, áreas de pastagens com suas subdivisões por valos ou cercas, cursos dágua, etc.

Antigas casas de colônia em fazenda de café de Ribeirão Preto [SP]. Fonte: Criador: Edson Silva Direitos autorais: @folhapress 2010 - todos direitos reservados à Folhapress — AII R
Antigas casas de colônia em fazenda de café de Ribeirão Preto [SP]. Fonte: Edson Silva / Direitos autorais: @folhapress 2010 — todos direitos reservados à Folhapress — AII R.
A arquitetura e a organização das grandes propriedades de produção do café e a influência delas na ordenação do território paulista se relacionam intimamente com o processo produtivo do café, que integra vários subprocessos realizados em unidades físicas bem definidas e caracterizadas no tempo e no espaço por elementos arquitetônicos originais e específicos, resultando uma arquitetura específica e original: a da fazenda cafeeira. O desenvolvimento tecnológico, ao impor transformações no programa de atividades do espaço da produção da fazenda de café, coevolui com a arquitetura no âmbito do seu sistema produtivo. A evolução técnico-científica exigiu adaptações no espaço destinado a abrigar cada atividade dentro e fora da fazenda cafeeira, alterando-lhe a forma; ou incrementando-lhe, restringindo-lhe, e até suprimindo-lhe a função.
Fazenda Monte Alegre. Desapropriada pelo Governo Estadual, em 1948, as terras da fazenda passaram a constituir o patrimônio da Universidade de São Paulo. Hoje serve como sede de dois museus: Histórico e do Café. Ribeirão Preto [SP]. Foto: Rubens Chiri. Fonte: Banco de Imagens do Estado de São Paulo.
Durante o período em que o café foi a principal indústria brasileira (de meados do século XIX a meados do século XX) a arquitetura das fazendas cafeeiras evoluiu de acordo com as transformações culturais, tecnológicas, socioeconômicas, políticas, ocorridas na sociedade. Na região de Ribeirão Preto, as fazendas passaram por diversas modificações.
Entre as principais mudanças relacionam-se as seguintes: a casa-grande e a senzala são substituídas por sedes rodeadas de jardins e casas de colônia; dá-se também a substituição dos equipamentos primitivos por máquinas industriais movidas a água, e depois a vapor ou eletricidade; o advento da ferrovia ao invés das "tropas de muares" exige a construção de pequenas plataformas de embarque próximas aos armazéns e às colônias da fazenda; e o núcleo industrial agiganta-se transformando-se no principal componente arquitetônico da grande empresa produtora de café.
A casa-grande e a senzala foram substituídas por sedes rodeadas de jardins e casas de colônia; a construção da ferrovia exigiu a implantação de pequenas plataformas de embarque próximas aos armazéns e às colônias da fazenda; o núcleo industrial cresceu, transformando-se no principal componente arquitetônico da fazenda. Da mesma forma, em outras regiões cafeeiras pode-se observar diferentes mudanças, de acordo com o contexto regional e com o período que se analisa.
Casa-sede da Fazenda Boa Vista, em Ribeirão Preto [SP], construção do final do século XIX. Foto: Vladimir Benincasa. Fonte: Benincasa, V. (2010). As casa de fazendas paulistas. Com Ciência. Revista Eletrônica de Jornalismo Científico. Disponível em: http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=60&id=759
Fazenda Schmidt, Ribeirão Preto, SP. Fonte: A. Lalière, 1909; B. Belli, 1910. In Arquitetura do Café [por] André Argollo / A. Lalière, 1909.
Terreiros de uma das fazendas de M. Francisco Schmidt, em Ribeirão Preto, SP, com a usina de beneficiamento ao fundo e a colônia no horizonte. 
Fonte: A. Lalière, 1909. In Arquitetura do Café [por] André Argollo.
Muitas fazendas possuem construções antigas em bom estado de conservação, restauradas ou — em alguns casos — reconstruídas por completo. Infelizmente esta não é a realidade de uma grande parte das propriedades rurais, que — por falta de dinheiro ou falta de consideração dos proprietários acabaram perdendo os registros arquitetônicos que outrora lhes embelezavam a arquitetura do café. Todavia, para resgatar a tradição das grandes fazendas cafeeiras, os edifícios que compõem seu conjunto arquitetônico podem conter elementos presentes na arquitetura colonial brasileira. Grandes varandas, amplos telhados com telhas de barro, portas e janelas de madeira coloridas, lambris no teto e ladrilhos hidráulicos são alguns dos exemplos a serem utilizados em novos projetos ou em projetos de restauro/reconstituição. Muitos elementos considerados símbolo das antigas fazendas, como os fogões à lenha, são incorporados nesses projetos não pela praticidade do seu uso, mas sim pelo valor simbólico-arquitetônico que possuem. Obviamente não é necessário se valer de todos estes itens ao mesmo tempo para que se realize o resgate de memória.
Fachada do Museu do Café de Ribeirão Preto [SP].
Vista da varanda de uma das alas do Casarão do Museu do Café de Ribeirão Preto [SP].
No caso da arquitetura do café, eu considero que uma boa arquitetura vai muito além de um bom desenho, pois remete aos cinco sentidos. Na arquitetura do café, o “aroma” é essencial na composição do ambiente — há que sensibilizar o olfato com aromas do café e da fazenda; assim como o tato — textura dos revestimentos, o material que compõe o mobiliário etc.; a luz deve ser bem pensada — o que exige do arquiteto um belo estudo da luminosidade do ambiente para conjugar rural com urbano, tradicional com contemporâneo; a sonoridade também é relevante. Assim também em ambientes urbanos, por exemplo no projeto de uma cafeteria, em que o próprio som do preparo do café, da manipulação das louças, das conversas sempre amenas, tudo isso pode ser muito bem explorado pela boa arquitetura do café. O sabor, nem se fala !
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REFERÊNCIA para citar este Texto:

Argollo Ferrão, A. M. de (2019). Fazendas de Café em Ribeirão Preto [SP]. In: Arquitetura do Café [Blog]. Disponível em: http://arquiteturadocafe.com.br/blog/

REFERÊNCIAS citadas neste Texto:

Argollo Ferrão, A. M. de (2015). Arquitetura do Café (2a. ed.). Campinas: Editora da Unicamp.

Argollo Ferrão, A. M. de (2005). A Fazenda Cafeeira e suas características no tempo e no espaço por elementos arquitetônicos. Revista Cafeicultura, n. 24, out./2005. Disponível em : https://revistacafeicultura.com.br/?mat=5550

Argollo Ferrão, A. M. de (2004). Arquitetura do Café (1a ed.). São Paulo: IMESP; Campinas: Editora da Unicamp.

Belli, B. (1910). Il caffè: il suo paese e la sua importanza. Milão: Ulrico Hoepli. Manuali Hoepli, con 48 tavole, 7 diagrammi e carta delle zone caffeitere.

Benincasa, V. (2010). As casa de fazendas paulistas. Com Ciência. Revista Eletrônica de Jornalismo Científico. Disponível em: http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=60&id=759.

Lalière, A. (1909). Le café dans l’état de Saint Paul. Paris: Augustin Challamel.
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Mexido de Ideias apresenta Arquitetura do Café

Olá Pessoal ! Ao navegar pela Internet como sempre faço, visitando sites e blogs interessantes cujo conteúdo sempre acrescenta conhecimento, particularmente a quem aprecia um bom café e tudo o que diz respeito ao bom café, eu encontrei o "Mexido de Ideias" (com sabor de café) ! Belo site, valeu a visita ! Recomendo a todos os apreciadores de um bom café. O "Mexido de Ideias" apresenta um excelente conteúdo nas seguintes abas: receitas / barista / negócios / saúde / cultura / coffeelover / cafés pelo mundo [...]

[...] E foi justamente na aba "cultura" do Mexido de Ideias (com sabor de café) que eu encontrei uma simpática apresentação do meu livro "Arquitetura do Café", cujo teor, muito bem redigido por Lucas Tavares, eu tomei a liberdade de transcrever a vocês neste "post". Vejam a seguir :

"Como todo bom negócio, a produção de café precisa ter uma arquitetura própria. Isso, porque todos os seus processos necessitam de instalações que correspondam com suas demandas. Quem já visitou ou conhece uma fazenda cafeeira sabe! Já para quem nunca teve esse prazer, apresentamos o livro “Arquitetura do café”, de André Argollo, que visa fazer um levantamento histórico sobre as edificações relacionadas à produção do grão [...]
[...] As construções arquitetônicas analisadas fazem parte de fazendas na região de Campinas, estado de São Paulo, e de seus arredores. Todos os detalhes dos projetos são explicados e mostrados ao leitor. Claro, não poderiam faltar diversas ilustrações e fotos atuais e históricas das edificações, muitas das quais já têm mais de dez décadas de vida [...]
[...] Em suas 296 páginas, o livro também esclarece tendências sociais da época usando como base a própria arquitetura das fazendas. As edificações também são usadas para desvendar diretrizes econômicas da região que um dia já foi um dos centros de produção de café no país".
Por : Lucas Tavares
Escrito para o site "Mexido de Ideias", onde você encontra dicas culturais para apaixonados por café, sugestões cafeinadas de livros, filmes, cursos e perfis em redes sociais, e trabalhos de artistas que demonstram amor pelo café com muito talento.

Visitem o site "Mexido de Ideias" com sabor de café !
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As pesquisas que deram origem ao livro Arquitetura do Café remetem à trajetória da rubiácea desde a África até São Paulo, território onde eu concentro as minhas análises. O café e a arquitetura de muitas fazendas cafeeiras compõem cenas e cenários que no livro eu procurei retratar a partir de uma linguagem baseada no "Pensamento Orientado a Processos". Além disso, o livro apresenta as técnicas que se refletiam nos projetos, e as várias tarefas que demandavam uma arquitetura específica : a da fazenda de café. A ideia foi tentar desvendar tendências e diretrizes sociais e econômicas e seus reflexos sobre a "arquitetura do café" numa obra textual e iconográfica de elevada categoria e complexidade.
Recentemente iniciamos uma nova fase do projeto "Arquitetura do Café", ampliando-o e incorporando em uma linguagem digital, transformando-o em um site que abriga este blog com o objetivo de abordar diferentes aspectos da cultura cafeeira, não somente com base no conteúdo do livro, mas também abrindo para novas pautas, a fim de compartilhar informações e vivências.
Bem vindos ao "Arquitetura do Café" <http://www.arquiteturadocafe.com.br>
Visitem @arquiteturadocafe e o canal YouTube "Arquitetura do Café"
#arquiteturadocafe
Conheçam e frequentem o "Mexido de Ideias" <http://www.mexidodeideias.com.br>
[...] com sabor de café !!!
Abçs.,
André Argollo
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Arquitetura do Café e das cafeterias

Um bom café há de ser bem saboreado em um ambiente aconchegante. Os tipos especiais de grãos, torras e blends movimentam uma grande cadeia de serviços: as cafeterias. A arquitetura do café é marcada pelo passado das grandes fazendas e pelo rico conjunto de construção que as compõem, imponentes e poderosas, reservando o charme dos tempos antigos e as características aprazíveis e aconchegantes de um bom ambiente familiar. Mas também é marcada, sem dúvida, pelos ambientes aconchegantes e contemporâneos das cafeterias que se apresentam nas grandes cidades do Brasil e do mundo.

La Mercerie Cafe & Bar New York [EUA]. Fonte: https://www.lamerceriecafe.com
Nas grandes cidades do mundo todo, as cafeterias representam uma faceta importante do comércio em torno do café, levando para espaços charmosos e aconchegantes alguns dos mais significativos elementos arquitetônicos e culturais das suntuosas fazendas de café. A boa arquitetura do café procura enxergar as mudanças de comportamento dos consumidores e as replicam nos projetos arquitetônicos das cafeterias, que investem no design de interiores para criar espaços que remetam às tradições de família, a casa dos avós e as antigas fazendas cafeeiras.
Imagem de cima : Cafeteria da Pousada Solar da Ópera, em Ouro Preto [MG] Brasil.
Imagem de baixo : Cafeteria Fika Cafés Especiais, em São José dos Campos [SP] Brasil. Fonte: Revista Espresso.
Os elementos da arquitetura do café e da decoração das cafeterias devem despertar os sentidos, a memória, as lembranças que invariavelmente vêm à mente e se materializam com o prazer de degustar a bebida. A arquitetura do café há de inspirar a sensação de acolhimento nos sublimes momentos de pausa, descanso ou de boas conversas. A decoração promove ambientes especiais de cafeteria, com cadeiras confortáveis e acolhedoras, poltronas e sofás, dispostos sob iluminação adequada e ventilação controlada.
Imagens de cima e de baixo : Cafeteria da Pinacoteca de Brera, em Milão [Italia].
Fotos: Michele Nastasi/Divulgação.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/haus/arquitetura/novo-cafe-pinacoteca-brera-milao-enaltece-arquitetura-design-1950-rgastudio/
Nada de usar luz fria, opte por elementos de madeira, ferro trabalhado, peças de demolição e objetos artesanais. Procure conjugar o antigo e tradicional com linhas contemporâneas sem abrir mão das características rurais das regiões cafeeiras do Brasil. Texturas e tecidos obtidos com tijolos de demolição ou cestarias, plantas naturais ou pequenos arranjos trazem a natureza para o ambiente interno. A decoração pode seguir uma linha contemporânea com linhas retas e móveis modernos bastando a presença de uma parede de tijolos ou peças de demolição para proporcionar um ar nostálgico dos antigos casarões e rurais.
Chelsea Cafe, em Curitiba [PR] Brasil. Foto: Leticia Akemi/Gazeta do Povo.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/haus/arquitetura/dez-cafes-com-decoracao-legal-para-conhecer-no-fim-de-semana-em-curitiba/
REFERÊNCIA para citar este Texto:
Argollo Ferrão, A. M. de (2019). Arquitetura do café e das cafeterias [Blog]. Disponível em http://www.arquiteturadocafe.com.br/blog
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Fazenda de Café : um sistema produtivo integrado

Ao se tratar de um sistema produtivo, seja ele industrial, comercial, agrícola ou mesmo artesanal, deve-se ter em mente questões pertinentes ao universo em que ele se insere, e que são ora determinantes, ora resultantes de sua evolução. Tal é o caso das relações existentes entre Técnica e Arquitetura presentes num sistema destinado à produção: um pode influenciar a evolução do outro, porém, ambos desenvolvem-se coerentemente com o perfil do sistema produtivo em que estão inseridos. É isto o que se pretende demonstrar com a pesquisa que gerou o livro Arquitetura do Café.

Fazenda do Secretário, em Vassouras [RJ], um dos mais iconográficos exemplos do período áureo do Vale do Paraíba. Chegou a possuir cerca de 500 mil pés de café e mais de 350 escravos. Litogravura de Louis-Jullien Jacottet, 1861. Domínio público, Biblioteca Nacional Digital.
Partindo-se da hipótese de que há uma forte ligação entre a arquitetura das fazendas e as técnicas empregadas no processo produtivo do café, pode-se reconhecer a “arquitetura da produção” das regiões onde se empregaram processos definidos por um semelhante estágio de desenvolvimento técnico, e condições sócio-econômicas parecidas. Para se compreender a correlação entre Técnica e Arquitetura, no estudo que gerou o conteúdo do livro Arquitetura do Café, tomou-se como cenário as fazendas de café do interior paulista no período entre 1850 e 1950.
Litografia da Fazenda Ibicaba, de autor desconhecido. Coleção Paulo Levy. O núcleo industrial da fazenda caracteriza um cenário de plena integração entre as técnicas empregadas no processo produtivo do café e a arquitetura correspondente.
Heflinger Jr., J. E. (2014). O sistema de parceria e a imigração europeia. Limeira: Unigráfica.
Mendes, F. L. R. (2017). Ibicaba revisitada outra vez: espaço, escravidão e trabalho livre no oeste paulista.
Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, 25(1), 301-357. https://dx.doi.org/10.1590/1982-02672017v25n0112
Assim, definiu-se por complexo produtivo das fazendas cafeeiras, o conjunto formado por terreiro, tulha e casa das máquinas (o qual passaremos a chamar de núcleo industrial da fazenda), mais o cafezal. Por analogia, quando se mencionar a arquitetura deste complexo, ou seja, a arquitetura do complexo produtivo da fazenda cafeeira, pretende-se abranger a arquitetura do núcleo industrial e a arquitetura do cafezal.
Arquitetura do Núcleo Industrial da Fazenda Santa Genebra, em Campinas [SP]. Os terreirões de secagem de café nas proximidades da sede, da tulha e da casa de máquinas eram típicos do empreendimento cafeeiro. In: Engenhos e Fazendas de Café em Campinas (Séc. XVIII - Séc XX). Uso amparado pela Lei 9619/98.

Silva, A. P. da (2006). Engenhos e fazendas de café em Campinas (séc. XVIII – séc. XX). Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, 14(1), 81-119. https://dx.doi.org/10.1590/S0101-47142006000100004

Arquitetura do Núcleo Industrial da Fazenda Conceição, em São Pedro [SP]. Secagem de café em terreiros de uma pequena plantação no início do século XX. Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / A. Lalière, 1909.

Argollo Ferrão, A. M. de (2015). Arquitetura do Café (2a. ed.). Campinas: Editora da Unicamp.

Lalière, A. (1909). Le café dans l’état de Saint Paul. Paris: Augustin Challamel.

Arquitetura do Cafezal. Trabalhadores na colheita do café no final do século XIX. É possível observar as características da arquitetura do cafezal a partir do alinhamento dos cafeeiros, da altura de cada pé de café, da conformação da paisagem correspondente.

Agassiz, J. L. R., & Agassiz, E. C. (1899). Album de Vues du Brésil. Paris: A. Lahure. Original pertence à BNDigital http://bndigital.bn.gov.br/acervodigital/ Disponível em História & Outras Histórias (Blog de Marta Iansen) https://martaiansen.blogspot.com/2016/01/colheita-do-cafe.html Acesso em 28 out./2019.

Arquitetura do cafezal. Mulheres trabalhadoras no cafezal em pleno século XXI. As características da arquitetura do cafezal podem ser observadas pelo alinhamento dos cafeeiros, altura dos pés de café, e pela conformação da paisagem resultante.

Arzabe, C. et al. (Ed. técnicas) (2017). Mulheres dos cafés no Brasil. Brasília: Embrapa. E-book: il. color. ISBN 978-85-7035-729-8 Disponível em http://www.sapc.embrapa.br/arquivos/consorcio/publicacoes_tecnicas/mulheres-dos-cafes-no-brasil-convertido.pdf Acesso em 28 out./2019.

Portanto, é muito importante verificar-se a influência que a evolução técnica do maquinário empregado no processo de beneficiamento do café possa ter exercido sobre a arquitetura do núcleo industrial das fazendas, e que implicações isto pode ter gerado em todo o conjunto. Desse modo, a integração entre Técnica e Arquitetura no sistema espacial "fazenda de café" é essencial para a compreensão do processo de conformação da paisagem produtiva resultante.
REFERÊNCIA para citar este Texto:
Argollo Ferrão, A. M. de (2015). Arquitetura do Café (2a. ed., Prefácio). Campinas : Editora da Unicamp.
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Fazenda de Café : uma arquitetura distinta

O ciclo do café modificou radicalmente a estrutura social e econômica do Brasil conduzindo-o na direção de um rápido e profundo processo de urbano-industrialização que, praticamente, moldou o perfil da sociedade contemporânea brasileira. Contudo, o reflexo deste ciclo não se restringiu apenas a tal âmbito, mas abrangeu também o desenho da estrutura física das diversas regiões por onde a rubiácea passou.

Reprodução de um cartão-postal de São Paulo mostrando o Vale do Anhangabaú entre os anos 1940 e 1970.
Fonte: http://museudaimigracao.org.br/cartao-postal-da-cidade-de-sao-paulo/
O Estado de São Paulo foi o cenário das maiores transformações provocadas pelo café entre os anos de 1850 e 1950. De Capitania da Colônia desprovida de riquezas e poder político, os quais se concentravam em Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, e Minas Gerais, tornou-se, neste período de cem anos, o Estado mais desenvolvido do país. Antes de 1850, porém, ocorreu no território paulista o importante ciclo do açúcar que, embora sem alcançar a magnitude do nordestino, foi suficiente para preparar-lhe a infraestrutura para que, depois, a cafeicultura penetrasse e se consolidasse até o final do Império.
Terreiro, tulha e casa de máquinas.
O complexo produtivo da Fazenda Santa Gertrudes na primeira década do século XX, propriedade do Conde de Prates, localizada no atual município de Santa Gertrudes [SP].
Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / Coleção Sacop, Arquivos Especiais, CMU.
Fazenda Santa Gertrudes. Fundada em 1854, a fazenda localizada em Santa Gertrudes retrata fielmente toda a grandeza do período áureo do Café e a chegada dos imigrantes italianos no Brasil. Santa Gertrudes [SP] (Circuito Fazendas Históricas). Localização: S 22º28.730’ – W 47º30.774’. Foto: Rubens Chiri.
Fazenda Santa Gertrudes. A fazenda com sua arquitetura centenária em estilo francês remete aos tempos aureos do café da colheita ao embarque na estação do trem. A sua antiga tulha de armazenamento foi adaptada para a realização de eventos, sendo um concorrido local para a celebração de casamentos na região. Santa Gertrudes [SP]. (Circuito Fazendas Históricas). Localização: S 22º28.730’ – W 47º30.774’. Foto: Rubens Chiri.
As regiões do Vale do Paraíba e de Campinas foram as que primeiro se beneficiaram da riqueza gerada pela produção da rubiácea no Estado e, portanto, é onde se encontram ricos exemplares de uma arquitetura distinta: a da fazenda de café. A partir da década de 1890, tendo São Paulo como a metrópole que polarizaria os negócios da espetacular produção dessa commodiy, as grandes empresas agrícolas do Oeste Paulista, localizadas principalmente na região de Ribeirão Preto, caracterizaram-se por uma arquitetura diferente daquela que se praticava no Vale do Paraíba. Nestes magníficos espaços de produção, o café vicejou e gerou riquezas até a Crise de 1929.
A Revolução de 1930 determinou a perda de poder dos empresários ligados à economia primário-exportadora, representados, principalmente, pelos fazendeiros paulistas e mineiros. Mas a expansão da cafeicultura permaneceu vigorosa, agora na direção do chamado Oeste Novo Paulista que passaria a representar a fronteira agrícola até a década de 1950.
Muro de pedras em primeiro plano. Ao fundo pode-se observar uma parte da fachada das ruínas do casarão da Fazenda Jambeiro, em Campinas [SP].
Foto: André Argollo / Campinas, 2017.
Nos últimos 50 anos, consubstanciou-se na capital do Estado de São Paulo uma metrópole moderna e mundialmente conhecida, e no seu hinterland, diversas cidades cujas estruturas físicas ergueram-se baseadas nas necessidades da economia cafeeira em diferentes períodos históricos. Porém, convém salientar que, de fato, o processo produtivo do café desenrolou-se, ao longo do tempo, em unidades empresariais que tinham uma configuração territorial própria, com sua infra-estrutura de construções civis desenhada e implantada segundo uma arquitetura específica e original: a das fazendas de café.
O livro Arquitetura do Café pretende elaborar a questão da evolução da arquitetura de um espaço de produção, tomando por objeto as fazendas de café do estado de São Paulo, vistas como unidades produtivas de um sistema integrado, de modo a se estabelecerem correlações entre técnica e arquitetura.
REFERÊNCIA
Argollo Ferrão, A. M. de (2015). Arquitetura do Café (2a. ed.). Campinas : Editora da Unicamp.
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Organização espacial de um sistema territorial rural

Atividades espontâneas ou empreendimentos planejados constituem intervenções humanas que conferem personalidade e características próprias a determinadas regiões. Dessa interação resultam paisagens de relevante valor patrimonial que marcam o trabalho do homem sobre o território. A revitalização desses locais especiais é um fenômeno recorrente em diversas partes do mundo, repercutindo positivamente em processos de recuperação de determinados sistemas territoriais, conferindo-lhes identidade e conformando-lhes a paisagem correspondente. Assim, é possível associar a ideia de uma Arquitetura do Café a uma certa paisagem cultural cafeeira como atores do desenvolvimento regional no âmbito dos Sistemas Territoriais – rurais e urbanos – que os integram.

Complexo produtivo da fazenda de Oliveira em São João da Boa Vista [SP], no início do século XX.
Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / Coleção Sacop, Arquivos Especiais, CMU
Os estudos sobre os sistemas territoriais rurais devem abranger todos os aspectos relacionados ao ambiente rural construído, voltados direta ou indiretamente para a produção, no âmbito dos diversos sistemas produtivos que compõem o Complexo Agro-industrial-comercial, ou o agribusiness de um país ou região.
No Brasil, sempre que se fala de sistemas territoriais rurais remete-se à ideia de uma paisagem singela, bucólica, composta por pequenos sítios ou enormes glebas de terra dotadas de mais ou menos infraestrutura. A tradicional visão que se tem desses sistemas territoriais os caracteriza como um conjunto de edificações destinadas à produção agrícola ou agroindustrial, e à habitação, integradas por estradas vicinais (normalmente caminhos de terra), campos cultivados, e pequenos povoados.
Casa de colono do núcleo colonial Campos Sales, Cosmópolis [SP], entre 1900 e 1909.
Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / Coleção Sacop, Arquivos Especiais, CMU
Terreiro, tulha e casa de máquinas.
O complexo produtivo da Fazenda Santa Gertrudes na primeira década do século XX, propriedade do Conde de Prates, localizada no atual município de Santa Gertrudes [SP].
Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / Coleção Sacop, Arquivos Especiais, CMU
No entanto pesquisadores e gestores públicos de diversos países do mundo têm enfocado os sistemas territoriais rurais como um campo de estudos absolutamente fundamental para o desenvolvimento sustentável de um país ou região. Esta postura acadêmica e político-gerencial é relativamente recente, intensificando-se a partir da década de 1990.
De fato, os sistemas territoriais rurais devem ser compreendidos a partir da integração dos processos de desenvolvimento rural com os sistemas territoriais das regiões metropolitanas mais dinâmicas, bem como com as redes de cidades em sistemas territoriais agrícolas, ou ainda com o sistema territorial urbano de cidades isoladas em regiões menos dinâmicas do ponto de vista socioeconômico. Quanto mais integrados forem os processos de desenvolvimento rural, melhor se configura um sistema territorial equilibrado e sustentável.
Casa do médico no núcleo colonial Nova Pauliceia, Matão [SP], entre 1907 e 1910.
Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / Coleção Sacop, Arquivos Especiais, CMU
Uma unidade produtiva dedicada a um ou mais processos agroindustriais pode ser considerada um subsistema territorial rural, composto pelos seguintes conjuntos arquitetônicos:
  • o núcleo industrial, conformado pelo conjunto de edifícios e estruturas edificadas para abrigar o maquinário e os produtos nas diversas fases do processamento agroindustrial. Trata-se do conjunto arquitetônico que abriga o patrimônio industrial da propriedade;
  • a paisagem resultante da integração dos sistemas hídricos e territoriais, composta por corpos d’água, remanescentes de mata natural, pelos campos de pastagem e bosques implantados artificialmente, os jardins e pomares, a lavoura ou o campo cultivado propriamente dito. No caso de uma fazenda de café, por exemplo, a arquitetura da lavoura cafeeira representada pelo desenho de implantação do cafezal e pelo desenho do próprio cafeeiro, uma vez que estes resultam de sucessivos processos de seleção e melhoramento genético, conduzidos a fim de esculpir-lhes a forma otimizando-lhes a função;
  • a arquitetura das construções complementares e suplementares àquelas do núcleo industrial, existentes na maioria das propriedades rurais (tais como os currais, paióis, barracões diversos, escritórios, canais, açudes e barragens, pontes e estruturas diversas, etc.);
  • a arquitetura dos edifícios destinados à habitação, como a sede da fazenda e as casas dos trabalhadores rurais;
  • o patrimônio cultural existente na propriedade, composto eventualmente por remanescentes de senzalas (antigas vivendas destinadas a abrigar os escravos da fazenda), antigas colônias, habitações isoladas, antigo núcleo industrial, etc.
Secagem de café em terreiros de uma pequena plantação na Fazenda Conceição, em São Pedro [SP] no início do século XX. Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / A. Lalière, 1909.

Lalière, A. (1909). Le café dans l’état de Saint Paul. Paris: Augustin Challamel.

Assim se caracteriza a arquitetura de uma propriedade rural – ou, um subsistema territorial rural, ou ainda, um sistema espacial especializado, neste caso, rural. Suas múltiplas interfaces e seu papel no chamado “sistema cidade-campo” eleva a arquitetura rural a uma privilegiada condição de elemento de integração entre o meio e o complexo de sistemas geradores de ciência e informação de que se compõe o agribusiness de um país ou região. Os sistemas territoriais rurais encontram-se, pois, intimamente relacionados com o sistema tecnológico de um determinado complexo produtivo inserido no âmbito do Complexo Agro-industrial-comercial de um país ou região.
REFERÊNCIA
Argollo Ferrão, A. M. de (2015). Arquitetura do Café (2a. ed., Prefácio). Campinas : Editora da Unicamp.
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Arquitetura do Café

Desde o seu lançamento em 2004, o livro tem proporcionado diálogos, debates em palestras, aulas, conferências em eventos acadêmicos e culturais no Brasil e no exterior. Após a publicação de sua 2ª edição, em 2015, sentiu-se a necessidade de ampliar o projeto adotando-se uma abordagem digital para falar diretamente a diferentes públicos, abrangendo todos os aspectos da cultura cafeeira, para além das áreas de arquitetura e engenharia, inspirando o engajamento em temas como a gestão do patrimônio e da paisagem cultural brasileira, ordenamento territorial, desenvolvimento local e regional sustentável, arte, tradição, memória, o café no cotidiano e muito mais!

Primeiramente, muito prazer, meu nome é André Munhoz de Argollo Ferrão, sou engenheiro civil, arquiteto e urbanista. Pós-graduado em Economia “lato sensu”, Mestre em Engenharia Agrícola, Doutor em Arquitetura e Urbanismo.
Ao longo desses anos, realizei diversas pesquisas como professor visitante na Espanha (Barcelona e Gijón). Atualmente, sou professor livre-docente da Universidade Estadual de Campinas, pesquisador, autor de diversos livros, capítulos de livros, artigos acadêmicos e textos literários.
Minhas pesquisas se concentram nas áreas de engenharia de empreendimentos para o desenvolvimento local e regional sustentável, gestão do patrimônio (ambiental e cultural), gestão integrada de bacias hidrográficas, planejamento do território e da paisagem.
Complexo produtivo da fazenda de Oliveira em São João da Boa Vista [SP], no início do século XX.
Fonte: Arquitetura do Café [por] André Argollo / Coleção Sacop, Arquivos Especiais, CMU
E foi exatamente uma dessas pesquisas que deu origem ao livro Arquitetura do Café, com sua primeira edição em 2004 e segunda edição em 2015. O livro apresenta a história do café e a arquitetura de muitas fazendas, as técnicas que se refletiam nos projetos, e as várias tarefas que demandavam uma arquitetura específica. Procurou-se desvendar tendências e diretrizes sociais e econômicas e seus reflexos sobre a "arquitetura do café" numa grandiosa obra textual e iconográfica que lhe deu vida.
Hoje, quatro anos após o lançamento da segunda edição do Arquitetura do Café, iniciamos uma nova fase do projeto, ampliando-o agora em linguagem digital, transformando-o em um site completamente ilustrado, interativo e informativo, com um blog que irá abordar os diferentes aspectos da cultura cafeeira, explorando o conteúdo do livro, novas pautas, compartilhando informações e experiências, abrindo janelas para o diálogo e debates (não deixem de interagir e nos enviar a sua opinião ou comentários no final de cada publicação).
É importante ressaltar que as mídias sociais constituem atualmente uma das ferramentas mais utilizadas na internet, promovendo ampla acessibilidade graças à facilidade de interação. Sendo assim, publicaremos semanalmente conteúdos relevantes em nossas redes.
E para abrir com chave de ouro essa nova temporada, vamos explorar também um dos formatos de conteúdo digital mais consumidos atualmente: o audiovisual.
No canal Arquitetura do Café vamos abrir ainda mais essa janela de comunicação, trazendo um conteúdo inédito e um aprofundamento ainda maior das páginas do livro.
Visitas a instituições, paisagens e cenários ligados a cultura cafeeira, diálogo com profissionais de diferentes áreas relacionadas com o tema café, história oral, "causos" e uma boa prosa, vivências e experiências, dicas de projeto, arquitetura rural, roteiros turísticos e gastronômicos ligados ao café, visitas a fazendas e cafeterias, empórios e casas comerciais cafeeiras, noções sobre classificação, modos de preparo, degustação e muitas outras novidades estão por vir.
Então sinta-se em casa, tome uma xícara de café e vamos conversar...
Bem-vindo ao Arquitetura do Café.
André Argollo
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